Hoje prezado leitor, vim
contar a vocês um pouco sobre meu passado e meu presente. Quero dividir minhas
dolorosas lembranças com você, porque sei que vai me compreender. Pois bem, no
início de tudo foi difícil admitir para mim mesmo, mas no fundo sempre soube
que eu gostava de meninos. Mas isso não tem nada de errado e por isso acreditei
que poderia contar aos meus pais, que eles entenderiam e me amariam da mesma
forma que antes. No entanto, a reação deles foi pior do que eu esperava.
Acredite... não tem um dia em que
eu não sinta saudade deles, das refeições em família e do abraço reconfortante
da minha mãe, porém eles não me amam como eu os amo, e não me querem por perto.
Quanto eu juntei toda a coragem que tinha e contei sobre minha orientação
sexual a eles, ambos me olharam com uma expressão de incredulidade, mas o que
realmente doeu foi ver minha mãe me encarando com desprezo. Foi ali que percebi
que eu havia sido ingênuo demais, acreditando que me aceitariam.
Meu pai disse que era
vergonhoso me ter como filho e que seria melhor se eu fosse embora, porque ele
não iria sustentar um “viadinho”, imoral. E sabe o que fiz? Pateticamente e
inutilmente pedi desculpas, mas ele não me deu ouvidos e começou a ficar
violento. Lembro perfeitamente da sensação de desolação e desamparo quando eu
tive que dizer adeus as pessoas que eu mais confiava no mundo... Com uma
mochila nas costas e umas míseras economias, saí andando pelas ruas sem
destino. Eu não tinha para onde ir, porque nunca fui muito bom em fazer amigos.
Por isso me hospedei em um hotel na primeira noite, no mais barato que consegui
encontrar..., mas depois disso já não havia muito o que se fazer, quase sem
dinheiro, comecei a distribuir currículos, na esperança de encontrar emprego o
mais rápido possível.
Nos dias que se seguiram eu
dormi na rua, do contrário não teria dinheiro para comprar comida. Mas o tempo
foi passando e o dinheiro acabou, não consegui nenhum trabalho se quer. Então
comecei a pedir esmola, mas havia dias que eu não conseguia o suficiente para
comer e em uma atitude de desespero comecei a me prostituir. Dessa maneira eu
consegui me manter, mas parte de mim morreu. Todas as vezes em que me
encontrava com os clientes eu engolia o choro e sempre que ia dormir, sentia
tanta agonia que sempre pegava no sono em prantos e tinha pesadelos
recorrentes.
Teve vários momentos em que eu
pensei de tentar falar com meus pais outra vez, mas sabia que não faria
diferença e poderia até apanhar do papai... E só a ideia de ver aquele olhar de
desprezo, de nojo da minha mãe, me perfurando como uma espada, fazia com que eu
desistisse. Mas então, quando eu já tinha me dado por vencido e perdido todas
as esperanças, a minha avó materna que havia se mudado de nossa cidade natal,
descobriu que meus pais haviam me expulsado de casa e conseguiu me encontrar e desde
então passei a morar com ela. Alguns
meses depois de ter me mudado, felizmente surgiu uma vaga e consegui o emprego.
Agora acredito que as coisas vão melhorar, apesar de tudo.
Sou muito grato a minha avó por ter me
acolhido, quando mais ninguém o fez e apesar de ela não ter muito, já que praticamente
todo o salário dela de aposentada é gasto em seus remédios, ainda sim divide o
pouco que tem comigo. Ela é minha heroína e o motivo para me manter em pé. O
sorriso dela é o que me dá forças para continuar, principalmente quando preciso
permanecer em silêncio enquanto alguns colegas de trabalho me ofendem e fazem
piada de quem eu sou. Nunca cogito revidar por medo de perder o emprego, mas
surpreendentemente encontrei alguém que me defendeu sem nem mesmo saber quem eu
era e a partir dai acabamos nos tornando amigos. Minha salvadora não me vê como
uma pessoa anormal ou degenerada e isso de certa forma me inspira a buscar o
melhor nas pessoas. Enfim, caro leitor, parece que finalmente tenho um lar e
uma amiga. Agora as feridas apesar de ainda sangrarem, já não doem como antes.
E essas palavras são mais do que um desabafo, porque para mim, elas significam
um recomeço!
- Sheila Tinfel
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