domingo, 29 de setembro de 2019
sábado, 28 de setembro de 2019
O Pecado de Ser Você Mesmo
Hoje prezado leitor, vim
contar a vocês um pouco sobre meu passado e meu presente. Quero dividir minhas
dolorosas lembranças com você, porque sei que vai me compreender. Pois bem, no
início de tudo foi difícil admitir para mim mesmo, mas no fundo sempre soube
que eu gostava de meninos. Mas isso não tem nada de errado e por isso acreditei
que poderia contar aos meus pais, que eles entenderiam e me amariam da mesma
forma que antes. No entanto, a reação deles foi pior do que eu esperava.
Acredite... não tem um dia em que
eu não sinta saudade deles, das refeições em família e do abraço reconfortante
da minha mãe, porém eles não me amam como eu os amo, e não me querem por perto.
Quanto eu juntei toda a coragem que tinha e contei sobre minha orientação
sexual a eles, ambos me olharam com uma expressão de incredulidade, mas o que
realmente doeu foi ver minha mãe me encarando com desprezo. Foi ali que percebi
que eu havia sido ingênuo demais, acreditando que me aceitariam.
Meu pai disse que era
vergonhoso me ter como filho e que seria melhor se eu fosse embora, porque ele
não iria sustentar um “viadinho”, imoral. E sabe o que fiz? Pateticamente e
inutilmente pedi desculpas, mas ele não me deu ouvidos e começou a ficar
violento. Lembro perfeitamente da sensação de desolação e desamparo quando eu
tive que dizer adeus as pessoas que eu mais confiava no mundo... Com uma
mochila nas costas e umas míseras economias, saí andando pelas ruas sem
destino. Eu não tinha para onde ir, porque nunca fui muito bom em fazer amigos.
Por isso me hospedei em um hotel na primeira noite, no mais barato que consegui
encontrar..., mas depois disso já não havia muito o que se fazer, quase sem
dinheiro, comecei a distribuir currículos, na esperança de encontrar emprego o
mais rápido possível.
Nos dias que se seguiram eu
dormi na rua, do contrário não teria dinheiro para comprar comida. Mas o tempo
foi passando e o dinheiro acabou, não consegui nenhum trabalho se quer. Então
comecei a pedir esmola, mas havia dias que eu não conseguia o suficiente para
comer e em uma atitude de desespero comecei a me prostituir. Dessa maneira eu
consegui me manter, mas parte de mim morreu. Todas as vezes em que me
encontrava com os clientes eu engolia o choro e sempre que ia dormir, sentia
tanta agonia que sempre pegava no sono em prantos e tinha pesadelos
recorrentes.
Teve vários momentos em que eu
pensei de tentar falar com meus pais outra vez, mas sabia que não faria
diferença e poderia até apanhar do papai... E só a ideia de ver aquele olhar de
desprezo, de nojo da minha mãe, me perfurando como uma espada, fazia com que eu
desistisse. Mas então, quando eu já tinha me dado por vencido e perdido todas
as esperanças, a minha avó materna que havia se mudado de nossa cidade natal,
descobriu que meus pais haviam me expulsado de casa e conseguiu me encontrar e desde
então passei a morar com ela. Alguns
meses depois de ter me mudado, felizmente surgiu uma vaga e consegui o emprego.
Agora acredito que as coisas vão melhorar, apesar de tudo.
Sou muito grato a minha avó por ter me
acolhido, quando mais ninguém o fez e apesar de ela não ter muito, já que praticamente
todo o salário dela de aposentada é gasto em seus remédios, ainda sim divide o
pouco que tem comigo. Ela é minha heroína e o motivo para me manter em pé. O
sorriso dela é o que me dá forças para continuar, principalmente quando preciso
permanecer em silêncio enquanto alguns colegas de trabalho me ofendem e fazem
piada de quem eu sou. Nunca cogito revidar por medo de perder o emprego, mas
surpreendentemente encontrei alguém que me defendeu sem nem mesmo saber quem eu
era e a partir dai acabamos nos tornando amigos. Minha salvadora não me vê como
uma pessoa anormal ou degenerada e isso de certa forma me inspira a buscar o
melhor nas pessoas. Enfim, caro leitor, parece que finalmente tenho um lar e
uma amiga. Agora as feridas apesar de ainda sangrarem, já não doem como antes.
E essas palavras são mais do que um desabafo, porque para mim, elas significam
um recomeço!
- Sheila Tinfel
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Estou Viva?!
Sempre me pergunto se ainda estou viva. Parte de mim
acredita que sim, mas a outra parte acha que já sou a refeição diária dos
vermes famintos. De qualquer forma, ainda sou capaz de sentir o vento no meu
rosto, a água quente que cai do chuveiro, por outro lado emocionalmente estou
em um estado de inércia, não sei como é sentir felicidade, e mesmo a tristeza
parece inexistente, porque embora as vezes eu tenha vontade de chorar, não
choro, não consigo. A única coisa que ainda sou capaz de sentir é angústia e a dor.
Essas são as sensações que nunca me deixam.
Talvez eu esteja mesmo morta... O problema é que ainda
habito entre os vivos, e todos eles parecem tão diferentes de mim, que costumam
me dar medo. É difícil socializar com esses seres que possuem o coração batendo
e um corpo quente. Geralmente quando estou com eles me sinto sozinha, o oposto
de quando estou em minha própria companhia. Estranho, não?!
Me parece complicado resolver esse dilema. Levando em
consideração as evidências, fisicamente estou viva, porém minha alma não existe
mais, e agora não passa apenas de uma lembrança que aos poucos se apaga.
- Sheila Tinfel
21/09/2019
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terça-feira, 24 de setembro de 2019
TOC
TOC,
TOC, TOC...
TOC, TOC, TOC...
Essa batida insistente
Na minha mente
Nunca vai embora
O Transtorno Obsessivo Compulsivo
Dita as regras
E eu como sua escrava
apenas cumpro as ordens
Logo eu, amante da liberdade
Viciada em solidão
Ironicamente tenho sempre
Uma importuna companhia
Limpa, Limpa, Limpa!
Organiza, por cores,
Tamanhos e tipos
Nada pode estar fora do lugar
Que minha companheira indesejada
Começa a ter um surto psicótico
Que gera em mim
Uma angústia sem fim
Enquanto tudo ao meu redor
Precisa estar em perfeita sincronia
Aqui dentro, minha alma se afunda
Em um caos imenso
A obsessão por organização
Não me ajuda a encontrar
Alguma solução
Para a bagunça que me sufoca por dentro
Lá fora está tudo em seu devido lugar
Aqui dentro a desordem toma conta de tudo que há
No mais íntimo do meu ser
- Sheila Tinfel
21/09/2019
Temos o Direito de Amar!
As pessoas costumam temer o que elas não entendem e tudo que
elas temem é considerado algo que precisa ser combatido. Muito sangue inocente é derramado em
consequência da ignorância de extremistas que perderam a sua humanidade enquanto
se tornavam em monstros.
Até quando vão nos matar apenas por sermos quem somos?
Ainda não percebem que somos de carne e ossos como vocês? Que amamos e sofremos
da mesma maneira que vocês? Se esqueceram que fazemos parte da mesma espécie?
Nós não somos pecadores, nem imorais ou doentes, somos apenas pessoas amando
outras pessoas.
Estamos cansados de nos esconder, mentir ser algo que nunca
seremos, de andar na rua com medo de apanhar, de pedir desculpas por amar. Fartos
de ter medo de perder quem amamos se formos descobertos, de sermos abandonados
por quem consideramos o nosso lar. Estamos exaustos dos seus olhares de asco,
desprezo, ódio e indiferença. Basta! Nós estamos aqui para ser livres e ninguém
tem o direito de nos dizer a quem amar. Ninguém!
Não vamos e não podemos nos calar, porque foi muito difícil
chegarmos até aqui e devemos isso as pessoas que morreram lutando por nossa
liberdade. Entendam de uma vez por todas: Não somos motivo de chacota, nem algo
que tenham que temer, somos apenas pessoas como quaisquer outras.
Essa perseguição é completamente insensata e desumana. Nós
não estamos pedindo nada além do que merecemos. Temos o direito de sermos
respeitados, de podermos amar livremente e de ser nós mesmos sem sermos mortos
por isso.
- Sheila Tinfel
23/ 09/2019
sábado, 21 de setembro de 2019
Um Trauma e Muita Dor
- Você veio até mim e lentamente me destruiu por dentro,
quebrou cada pedaço do meu ser como se não fosse nada de mais. Cada palavra que
disse penetrou na minha alma como uma lâmina e tudo que fez me desestabilizou a
tal ponto que por muito tempo eu voltei a ser aquela criança que tinha medo de
tudo e de todos, completamente indefesa e perdida.
De qualquer maneira, sei que
parte disso foi minha culpa, porque deixei que você se aproximasse, descobrisse
meus pontos fracos e que os usasse contra mim. E foi muito difícil escapar das
suas teias de mentiras e chantagens..., mas aqui estou, viva apesar de tudo.
Embora eu tenha deixado tudo para trás, ainda não estou totalmente liberta do
inferno particular que você me prendeu, pois, em todos os lugares que vou
encontro gatilhos que me fazem lembrar de toda dor e angústia que suportei, eu
vejo sombras sem forma me perseguindo, sinto sua presença, mesmo sabendo que você
não está lá, sinto você tocar em mim com essas suas mãos repugnantes e todas as
noites tenho pesadelos. Isso é tão cansativo, e tão agonizante que só sobrevivo
me mantendo dopada. E mesmo com tantos remédios, continuo tendo delírios e
crises de pânico.
Eu gostaria de poder apagar as
minhas memórias e recomeçar. Assim talvez fosse mais fácil do que tentar
conviver com a dor, com a paranoia, e com todos os monstros que me consomem a cada
dia um pouco mais. E é por tudo isso que não posso perdoá-lo, mesmo porque sei
que nem sente remorso pelo que fez comigo. Nunca vai sentir, pois pessoas como
você, são egoístas, narcisistas, manipuladoras, hipócritas, frias e cruéis.
Enfim, estou cansada de lutar, exausta de não achar algum
alívio para a minha dor e frustrada por não encontrar a saída que me levará a
liberdade.
***
- Você diria isso se caso o visse?
-Ah! Não. Claro que não! Doutora, eu não perderia tempo
falando, porque seria mais prazeroso cortar a garganta dele!
- Sheila Tinfel
20/09/2019
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
A Carta de Suicídio
Eu gostaria de poder cumprir a promessa que fiz
a você, mas no fundo ambos sabíamos que era só questão de tempo até que eu
viesse a desmoronar de vez. E mais que uma despedida, essa carta é uma maneira
de lhe pedir perdão por deixá-lo... Talvez você venha a me odiar e se sinta
triste por alguns dias, mas depois do período de luto, acabará esquecendo de
mim pouco a pouco e no final eu não vou ser mais do que uma lembrança borrada
em sua memória.
Sei que em um primeiro momento isso lhe
parecerá absurdo, porém verá que nada é permanente, nem mesmo as nossas
recordações. Aliás, aconselho que siga sua vida, ame outra pessoa e escolha
alguém que possa fazê-lo feliz!
Eu poderia tentar explicar todas as razões que
me fizeram desistir, mas então seriam necessárias muitas páginas e não pretendo
me prolongar. Além do que, você sabe que estar aqui é muito doloroso, é uma
tortura que não sessa e não tenho mais energia para lutar contra todos os
monstros que vivem em mim.
Quero manifestar também que sou muito grata por
você estar sempre presente, me compreender e por me amar incondicionalmente.
Saiba que eu o amo com todas as minhas forças!
Ah! E por favor, não se preocupe com funeral ou
missas... Apenas compre o meu caixão ou creme meu corpo, faça o que achar
melhor, no final das contas não fará diferença. Use o dinheiro que está dentro
do meu cofre, você sabe a senha. E sei que pode parecer hipocrisia de minha
parte, mas de fato sinto muito por deixá-lo...
Você é a única pessoa que tenho para me despedir
e também a única que amei. Adeus e não pense muito em mim, mesmo porque eu não
mereço seu amor e nem a sua dor.
Com carinho, Lívia T.
24/09/2019
***
Heitor acabara de ler a carta que estava ao lado do corpo
frio e inerte da sua jovem namorada. E então ele se sentiu perdido e
horrorizado. Ficou muito irritado, mas depois se sentiu culpado e quando já nem
mais conseguia chorar, apenas desejou não sentir nada, porque ao menos era
melhor do que a dor. No entanto, como poderia? Hoje ele perdeu a mulher que
amava e com ela todos os planos futuros.
Apesar de tudo isso, Heitor se levantou do chão, guardou a
carta no bolso e tomou as providências necessárias. Decidiu por cremar o corpo
de Lívia e jogar as cinzas no rio que
cortava a cidade onde morava. Pensou que
ainda que morta, ela gostaria de estar livre, percorrendo caminhos
desconhecidos e imprevisíveis.
- Sheila Tinfel
17/09/2019
domingo, 15 de setembro de 2019
Meu Arrependimento
Você era um bom amigo, sempre esteve ao meu lado e era uma
das únicas pessoas que me compreendia. Ainda é difícil ter que admitir que não
lhe tenho mais por perto. Você me deixou sozinha em um mundo que é insuportável
sem a sua presença nele.
Quero dizer, eu nunca consegui me adaptar a sociedade, as
convenções sociais inúteis, e nem a irracionalidade humana; você era meu porto
seguro e quem me fazia menos solitária. Agora eu não tenho com quem desabafar,
além do meu diário, nem quem me dê conselhos ou que entenda todas as minhas
extravagâncias.
Dói muito aceitar que você nunca vai voltar, e eu sei que é
egoísmo meu, mas gostaria de vê-lo ao menos uma última vez, poder me despedir.
E se fosse possível também queria apagar da minha mente a lembrança de tê-lo
visto dependurado pelo pescoço por uma corda presa a árvore do jardim da sua
casa, onde costumávamos passar as tardes de fim de semana jogando conversa
fora.
Talvez em parte isso seja um pouco minha culpa. Eu estava
tão imersa nos meus problemas e angústias que não percebi que você estava
definhando por dentro. Você sempre guardou seus sentimentos para si, me ouvia e
nunca reclamava de nada. Quantos daqueles seus sorrisos foram falsos? Quantas
das vezes em que parecia alegre, mas na verdade estava imerso em um mar de dor?
Se pudesse voltar atrás, eu voltaria. Mas eu não tenho
outra opção além de aceitar a realidade, embora tenha sido cada vez mais
difícil. Sinto sua falta todos os dias e me culpo todas as vezes em que deito
minha cabeça sobre o travesseiro.
Eu venho aqui no jardim da sua casa que agora está
abandonada, toda vez que a saudade de você se torna insuportável... converso
com o nada na ilusória esperança de que você me escute, como fazia antes. Me
perdoe por não ter percebido que você estava morrendo por dentro e gritando por
socorro silenciosamente.
- Sheila Tinfel
A Estranha
Você entende o que é estar
perdida? Sem esperanças e vazia? Ter tantas pessoas a sua volta e ainda sim se
sentir sozinha? Tudo isso é muito desesperador, assim como o fato de que eu não
consigo ser parte de um grupo da sociedade, pois embora eu tente, é difícil se
comportar como os humanos.
Estou muito longe de casa e
ainda não consegui me adaptar a esse modo de viver. A espécie mais inteligente
desse planeta é ironicamente em grande maioria ignorante! Estar aqui entre eles
é assustador, há muita violência e destruição. Não tenho certeza se suporto por
muito mais tempo essa situação.
É
complicado ter que esconder meu desprezo por essa espécie de boçais
presunçosos, e mais difícil ainda é ter que socializar com eles. Mesmo você,
minha cara amiga que é suave como a calmaria de uma brisa, se irritaria ao
tentar viver no mesmo ambiente que um deles!
Todos os
dias antes de sair em lugares que há pessoas, eu mentalizo “apenas se comporte
como uma delas”, mas não consigo fingir ser o que não sou, apenas para que me
aceitem. Ignorar o que realmente sou seria negar a minha própria existência e
agir como eles seria ridículo, sem falar no tamanho retrocesso.
Gostaria
de ir embora, porém não tenho como sair daqui. Estou presa com eles nesse
Planeta. Por isso encarecidamente lhe peço que assim que receber essa mensagem,
encontre uma maneira de me resgatar. Você bem sabe que não planejei nada disso
e acabei aqui acidentalmente.
Sinto
falta do nosso mundo e de você... Por favor, não me deixe aqui sozinha nesse
planeta hostil. Prometo que tentarei manter minha sanidade e sobreviver o
máximo que puder, enquanto você viaja ao meu encontro. Até breve!
***
-Oh, raios! Observando a realidade a minha volta com mais
atenção, faz com que minha promessa pareça mais difícil de cumprir do que
voltar ao meu planeta sem um transporte adequado.
- Sheila Tinfel
09/09/2019
segunda-feira, 2 de setembro de 2019
Amor a Primeira Vista
Seu olhar convidativo
Contemplaram os meus com firmeza
O sorriso doce que se desenhou em seu rosto quando me viu
O suave toque dos seus dedos nos meus
Os fios de cabelos disformes e escuros caídos sobre seu
rosto
Todos esses detalhes
Tão pequenos
Tão singelos
E ainda assim,
tão marcantes
Você é tão bela
Tão terna
Tão única
Será que terei o privilégio de provar do néctar dos teus
lábios?
Será que poderei envolvê-la em meus braços
e assim aquecer seu coração?
Chegarei a vê-la outra vez?
- Sheila Tinfel
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