sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A Questão


Eu tenho medo de dormir... não posso adormecer. Tenho que ficar acordada, acordada, acordada! Acor...
Está escuro aqui, mas posso ver os vultos andando próximo a porta. Será que outra vez vão me machucar? Ah, certamente irão. Eles estão se aproximando de mim, eu ouço o som dos seus passos rastejantes pelo chão. Meu coração está acelerado, e tudo a minha volta parece tão nebuloso, porém ainda continuo escutando passos cada vez mais perto de mim e a respiração de alguém.
            Minha cabeça dói, e estou presa em uma cadeira, com as mãos e os pés amarrados. Eles gritam meu nome, me fazem perguntas, mas não consigo entender o que dizem. Um deles se aproxima de mim e olha nos meus olhos e sorri, como se o meu desespero proporcionasse prazer a ele, o que faz sentido, já que quanto mais eu tento me soltar e gritar, mais ele ri. No fundo eu o entendo, deve ser mesmo engraçado ver me debatendo de maneira tão patética e inútil.
            Ele tem uma faca nas mãos e acaricia meu rosto com ela. Sinto ele me golpear inúmeras vezes, mas não sinto dor. Apesar disso a angústia em meu peito cresce de maneira absurdamente assustadora. Eu quero chorar, mas não consigo. Tento gritar, porém nenhum som sai da minha boca. Estou paralisada, enquanto sou golpeada e não tenho nenhuma reação. Meu corpo não responde aos meus comandos. Por dentro estou desesperadamente pedindo por socorro, eu só quero que isso acabe. Não me importo em morrer. Pior do que a morte, é ser completamente absorvida por essa angústia de estar presa em meu próprio corpo.
            Eles querem respostas, mas como poderia dá-las se nem ão menos entendo o que dizem? Enfim, se querem me matar, vão em frente. Não tenho tempo a perder com brincadeiras idiotas de mentes perturbadas. Sinto uma pancada na cabeça, abro os meus olhos e dessa vez estou no meu quarto, e a luz do sol que entra pela janela me cega. Me levanto da cama e sinto uma dor pungente por todo o meu corpo, estou exausta. Mas preciso ir trabalhar.
            Todos os meus dias tem sido assim. O caos em minha mente não tem limites, nunca sei se o que vejo é real ou se é só mais um delírio. Não tenho como saber quando estou acordada e quando estou sonhando. Você saberia me responder essa questão?

- Sheila Tinfel

11/11/2019

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