Quando eu tinha 18 anos de
idade e estava cursando o 2º semestre de jornalismo, houve uma mudança de
professores na disciplina de Teoria da Comunicação, pois o anterior havia se
aposentado, e foi então quando o novo professor começou a lecionar o inferno
começou.
Ele tinha aparência jovial, e
aparentava ter por volta de 30 anos de idade, seus cabelos eram ruivos e
rebeldes, seu corpo era esguio e a pele pálida. Sempre sorria, e costumava ser
simpático com as pessoas, no entanto ele não era tão afável quanto
transparecia. Descobri isso logo cedo, nas primeiras aulas dele em que assisti.
Não precisou muito para que eu pudesse perceber a sua verdadeira face, a
personalidade que ele tentava esconder por debaixo da sua máscara.
Oslaf era
o típico hipócrita e falso moralista, além de narcisista e autoritário. Ele
costumava fazer piadas machistas, falar coisas aleatórias que nada tinham a ver
com o assunto trabalhado, com intuito de constranger e humilhar as acadêmicas
em sala de aula, mas o ápice do absurdo, foi quando ele assediou uma de suas
alunas e embora levemos o caso aos superiores dele, no final não fez diferença,
porque a universidade apenas abafou o caso.
Toda as
suas aulas eram uma tortura psicológica. Ele perseguia os alunos discordassem
dele ou não o adulassem e eu era um de seus alvos. Mas sobrevivi aos 4 anos do
curso. Fiquei grata por não precisar mais vê-lo, porém o meu contento durou
apenas um ano, pois na mesma época em que consegui um emprego como redatora de
um jornal local da minha cidade natal, Oslaf começou a trabalhar como editor na
mesma empresa jornalística que eu.
Se eu não
precisasse daquele trabalho, teria me demitido assim que ele começou a
trabalhar lá. Mas como não tinha estabilidade financeira naquela época,
permaneci no emprego.
No início
era suportável, porque ele não me procurava muito, porém quanto mais o tempo
passava, mais irritante ele se tornava. Criticava todos os meus textos, mesmo
que não houvessem erros. Menosprezava meu trabalho, me ofendia e depois tentou
me persuadir a copular com ele, dizendo que se eu aceitasse, deixaria de me
importunar e como obviamente recusei todas as vezes, ele começou a me ameaçar.
Primeiramente dizia coisas como “ seria
melhor concordar ou faria da minha vida um inferno”, “que ele era amicíssimo do
dono do jornal e faria com que me demitissem”, mas depois a situação piorou,
pois ele tentou me beijar a força várias
vezes e inacreditavelmente teve o desplante de usar minha irmã, a única família
que tenho, para me chantagear. Esse foi o meu limite. Nunca deixaria que
fizesse mal a pessoa que mais me importo no mundo. Então, me demiti e como
havia economizado algum dinheiro, além do que recebi com a publicação recente
dos meus livros, abri uma editora.
Por meses
pensei que estava finalmente livre daquela situação angustiante, mas ele
descobriu onde eu morava e começou a vir me ameaçar novamente e mesmo com ordem
de restrição ele continuava vindo, muitas vezes bêbado. Eu havia cansado
daquela perseguição e acabei indo longe demais, admito.
Contratei
duas pessoas para sequestra-lo e trazer até a sala secreta da minha casa, que
era a prova de som, e que eu costumava usar para me isolar quando precisava de
inspiração. E enquanto ele ainda estava desacordado joguei gasolina por todo o
seu corpo, depois me certifiquei que ele estivesse bem preso as correntes.
Esperei até que acordasse e então lhe dei a última chance de se redimir, de
desistir de me perseguir, mas ele recusou e dizia aos berros que “preferia
morrer a se rebaixar para uma mulher”, “ que eu deveria aceitar meu lugar de
submissão ao homem”, e fiquei imaginando se aquele sujeito realmente era do
mesmo século que eu, pois tinha tantas ideias arcaicas e absurdas.
Sinceramente
cada palavra que saía da boca dele me provocava asco, ele por inteiro me
enojava, e estava cansada de ouvi-lo falar. Portanto acendi um fósforo e o
joguei em sua direção. Na mesma hora ele começou a gritar, me chamar de louca e
depois começou a implorar por ajuda. E a única resposta que ele obteve de mim,
foi: “se divirta no inferno, querido”. Depois disso permaneci em silêncio,
apreciando o momento, enquanto ele agonizava de dor. Quando o corpo dele se
desintegrou, resolvi escrever essa carta e deixar junto de seus ossos aqui
nessa sala, onde o queimei, para que saibam como ele morreu. Mas isso nem de
longe é um pedido de desculpas, até porque o mundo é um lugar melhor sem ele.
***
Quando
Lídia terminou de ler a carta, que havia encontrado na sala secreta da casa que
comprou em um leilão, que fora de sua escritora favorita, antes dela falecer de
velhice, ficou em choque e entrou em pânico quando percebeu que havia alguns
ossos no canto sala, junto de duas correntes.
- Sheila Tinfel
05/08/2019
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