sábado, 24 de agosto de 2019

Os Desprezíveis Vermes


Minha mente é um completo caos, e enquanto por fora meu rosto demonstra calmaria, e um sorriso suave; por dentro estou agonizando. Por isso costumo frequentar um bar, próximo a minha casa, e que felizmente fica em uma rua pouquíssimo movimentada. Lá eu me sinto quase em paz, me distraio observando o ir e vir das pessoas, suas expressões e trejeitos. Com elas me sinto alguém normal e um pouco menos solitária, pois nem eu e nem os frequentadores daquele bar são bem ajustados nessa sociedade de hipócritas. De certa maneira, somos como uma família.
Em uma tarde quente de verão, eu como de costume fui até lá e me sentei em uma das mesas mais afastadas, e pedi um drink. Quando levei o copo a boca, vi alguns jovens rapazes, vestidos de preto, entrarem no bar e apesar de nunca os ter visto ali, em um primeiro momento não suspeitei de nada, mas em seguida percebi que eles nos encaravam com um olhar horripilante, pareciam estar enfurecidos. Por essa razão me levantei da cadeira calmamente, tentei disfarçar o nervosismo, mas fiquei pronta para o ataque. A maioria das pessoas que estavam ali também ficaram alertas, porém não fomos páreos para eles.
            Eu vi uma a uma das pessoas que estavam nas mesas a frente da minha ser decapitado ou esfaqueado. Nenhum deles conseguira ser mais rápidos que os extremistas que invadiram o bar. E quanto a mim? Bem... aconteceu tudo muito rápido. Tentei pará-los, mas foi inútil. Na segunda tentativa de enfrentá-los senti uma dor pungente na parte de trás da cabeça, e tudo a minha volta foi se apagando até ficar completamente escuro. Quando dei por mim, estava suspensa em cordas, muito perto da parede de uma casa ou seja lá o que aquela construção era de fato. Apesar de ainda me sentir minha cabeça latejar e ver o mundo ao meu redor girar, o perigo me deixou suficientemente acordada. Quando avistei os rapazes de preto encapuzados vindo em minha direção, em um surto de adrenalina, consegui me soltar das amarras e atacá-los. Um deles conseguiu acertar o meu braço esquerdo com uma lâmina pontiaguda, mas naquele momento eu não sentia dor, apenas raiva.
            Então assim que derrubei o primeiro deles, peguei um canivete de ponta dupla e uma faca de açougue que estava com ele, em seguida esfaqueei todos, e quanto mais ferimentos eu causava, mais eu queria feri-los. Minha roupa e meu rosto estavam cobertos de sangue daqueles vermes. No momento que fiz menção de ir embora, vi um deles vivo, aliás, o único que não estava de capuz. Supus que ele era o líder do grupo de extremistas, e não haveria possibilidade de deixá-lo escapar. Ele tentou fugir e se esconder, porém o alcancei antes que obtivesse êxito. Sabe... aquele momento foi de certa maneira engraçado, porque ele me pediu desculpas com os olhos marejados, mas as suas súplicas pareciam tão falsas. Enfim, a questão é que eu cortei sua garganta com o canivete e perfurei o peito dele com a faca.
- Minha cara jovem, você não quer que eu leve uma história fantasiosa dessas a sério, não é mesmo?
- Oh, claro que não. Seria péssimo se o senhor achasse que eu sinto prazer em matar! Mas enfim, estou com um pouco de pressa.
- E então... se era só isso que queria discutir comigo, sinta-se à vontade para partir.
- Ah, claro! Mas antes disso... o senhor é o verdadeiro líder daquele grupo infame não é mesmo? Gostaria de saber como prefere morrer... deixaria tudo mais interessante!
- Eu... ah... isso... quero dizer, como?
- Digamos que eu sou boa em descobrir a verdade. Agora, vamos ao que interessa! Pode ser essa faca, não é?!
...
Que ironia! Um verme se tornar comida para outros vermes!

- Sheila Tinfel

23/08/2019

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