sábado, 17 de agosto de 2019

No Passado: Medo, No Presente: Arrependimento


Tenho o mesmo sonho todas as noites. Você se aproxima de mim, como se tivesse medo, mas depois me beija e então desaparece. Por isso, acordo todas as manhãs lhe chamando, e como sempre, é inútil.
Eu perdi muito tempo tentando esquecê-la. Quanto mais eu negava que lhe amava, mais intensos se tornavam meus sentimentos por você. Sei que sempre fujo de situações como essa, em que preciso admitir que também sou capaz de amar. Embora pareça tolice, tenho medo de me permitir sentir. É muito assustador caminhar as escuras, completamente sem direção. Minha vida se baseia em utilizar a lógica para cada escolha que preciso fazer, mas no amor, não tem como ter controle absoluto sobre nossas ações e muitas vezes podemos nos machucar.
            Gostaria de poder ter lhe dito isso antes de você partir... talvez tenha pensado que eu estava brincando com os seus sentimentos, mas na realidade, estava confusa e perdida. Porém a inegável verdade é que eu te amo. Se pudesse pedir desculpas a você, eu pediria, no entanto isso deixou de ser possível a tanto tempo... muitos anos se passaram e ainda não sou capaz de seguir em frente. Ainda não tirei minha aliança do dedo, e a sua que você deixou na mesa do meu escritório antes de ir embora, guardei e a uso como um colar. Essa é a única coisa que ainda me resta de você e do que vivemos, além das lembranças, que a cada ano que se passa, ficam mais e mais apagadas.
            Lembro da última vez em que lhe vi, quando você estava no aeroporto, muito perto do momento do voo. Estava linda, seus cabelos castanhos caídos por seus ombros, e embora sorrisse eu sabia que não estava feliz, pois seus olhos estavam marejados e quando tentei lhe abraçar, você se afastou. Me disse que seria mais doloroso dessa forma, que a despedida precisava ser breve.
            Me arrependo tanto de não ter pedido para que você ficasse, ou pelo menos tê-la abraçado de alguma maneira. Mal sabia eu, que jamais teria outra chance. Toda vez que penso nisso sinto meu coração se despedaçar e agonizar. Naquela tarde se eu tivesse lhe impedido de ir embora, você não teria entrado no avião e não estaria morta agora... e eu, bem... eu não estaria aqui, em um cemitério, falando sozinha, ajoelhada na grama, próxima a sua lápide. Se pudesse me ver, certamente estaria rindo de mim agora! Diria que não se pode conversar com os mortos. E eu sei disso, mas não consigo deixar de vir aqui. Talvez porque não sou capaz de aceitar que lhe perdi para sempre.

- Sheila Tinfel

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