sábado, 15 de setembro de 2018

A Infiltrada




Em meio a agitação, de uma semana conturbada, e atarefada, por estágios e aulas na Universidade, me perguntaram se seria possível substituir o professor de Educação Física, em uma escola pública, na cidade de União da Vitória e apesar de por alguns segundos ponderar, aceitei o desafio.
Agora imagine, caro leitor, uma estudante do curso de Letras, amante da literatura, poetiza, novelista, que é um tanto desvinculada do meio social, e que sofria bullying na escola e era a última a ser escolhida nas aulas de educação física, aceitar a aventura de se “infiltrar” em um ambiente, que não lhe é muito familiar e não traz boas lembranças. Pois, o desfecho pode ser no mínimo, divertido.
Então, quando cheguei, me apresentei na secretaria e pedi informações sobre as turmas, e fui encaminhada até a sala de aula. Imagine a minha surpresa, quando logo após chegar, um rapaz de estatura média, magro, de cabelos escuros, se aproxima da porta e começa a falar com os alunos. Foi naquele momento que entendi o que estava acontecendo: ele era um estagiário e estava cumprindo seu estágio de regência obrigatório. Portanto, como era ele que organizaria os alunos e as atividades do dia, e eu apenas observaria e conferiria o livro de chamada, fiquei em parte aliviada, porque meu papel ali, seria mais de ouvinte, do que de atuante, porém por outro lado ele tinha mais afinidade, com a disciplina em questão, e isso fez me sentir mais insegura. Principalmente, quando ele veio conversar comigo, mas apesar do desconforto em relação a situação que me encontrava, me sai bem.
Alguns minutos depois, chegou outro rapaz, também jovem, de cabelos escuros, porém muito mais alto, e introspectivo que o primeiro, que aliás me pareceu um líder nato. Enfim, o segundo moço, também era um estagiário, apesar que nas atividades com os alunos, participou mais como coadjuvante, do que o contrário, e isso não diminui de forma alguma o seu bom desempenho e a utilização de sua autoridade, quando necessário. E assim, foi possível traçar ao menos de maneira superficial o perfil, dos dois, que sempre é uma observação necessária para que eu possa manter uma boa comunicação e entendimento com as pessoas a minha volta.
Depois de algum tempo, eu já me sentia mais confortável ali, e na segunda aula, que era com outra turma, fiquei observando as atividades distintas que dois grupos de alunos estavam praticando, uma coordenada pelo estagiário e a segunda sem a mesma necessidade, e o ritmos das duas parecia se sincronizar, transformando dois exercícios opostas em uma única melodia, a mistura do som do apto e do chute dos meninos contra a bola perdida, na confusão de pés que a tocavam, era como música, uma batida que causa frenesi e agitação. E foi, naquele instante que me veio o angustiante desejo de escrever sobre o momento em questão, portanto, fiz o que minhas mãos ansiavam e minha mente ardentemente clamava, escrevi, escrevi e escrevi!
Na maioria do tempo que estava ali, anotei ideias que surgiam e descrevi cenas que se mostravam interessantes, para transformar em um texto, seja qual gênero for. Talvez, tenha dado a impressão de que, eram anotações sobre o desempenho deles, mas na realidade, era só eu, me comportando como sempre, uma observadora, que vê em cada detalhe, uma peculiaridade, e sente instantaneamente vontade de escrever sobre. Aliás, é possível vestir máscaras, mas nunca mudar a sua essência, quem realmente se é. A aula era de Educação física, no entanto a pessoa que observava, era e continua sendo a jovem estranha, que encontrou na literatura, um meio de se comunicar com as pessoas.
-Sheila Tinfel

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