Em meio a agitação, de uma semana
conturbada, e atarefada, por estágios e aulas na Universidade, me perguntaram
se seria possível substituir o professor de Educação Física, em uma escola pública,
na cidade de União da Vitória e apesar de por alguns segundos ponderar, aceitei
o desafio.
Agora imagine, caro leitor,
uma estudante do curso de Letras, amante da literatura, poetiza, novelista, que
é um tanto desvinculada do meio social, e que sofria bullying na escola e era a
última a ser escolhida nas aulas de educação física, aceitar a aventura de se “infiltrar”
em um ambiente, que não lhe é muito familiar e não traz boas lembranças. Pois,
o desfecho pode ser no mínimo, divertido.
Então, quando cheguei, me
apresentei na secretaria e pedi informações sobre as turmas, e fui encaminhada
até a sala de aula. Imagine a minha surpresa, quando logo após chegar, um rapaz
de estatura média, magro, de cabelos escuros, se aproxima da porta e começa a
falar com os alunos. Foi naquele momento que entendi o que estava acontecendo:
ele era um estagiário e estava cumprindo seu estágio de regência obrigatório. Portanto,
como era ele que organizaria os alunos e as atividades do dia, e eu apenas
observaria e conferiria o livro de chamada, fiquei em parte aliviada, porque
meu papel ali, seria mais de ouvinte, do que de atuante, porém por outro lado
ele tinha mais afinidade, com a disciplina em questão, e isso fez me sentir
mais insegura. Principalmente, quando ele veio conversar comigo, mas apesar do
desconforto em relação a situação que me encontrava, me sai bem.
Alguns minutos depois, chegou
outro rapaz, também jovem, de cabelos escuros, porém muito mais alto, e introspectivo
que o primeiro, que aliás me pareceu um líder nato. Enfim, o segundo moço,
também era um estagiário, apesar que nas atividades com os alunos, participou
mais como coadjuvante, do que o contrário, e isso não diminui de forma alguma o
seu bom desempenho e a utilização de sua autoridade, quando necessário. E
assim, foi possível traçar ao menos de maneira superficial o perfil, dos dois,
que sempre é uma observação necessária para que eu possa manter uma boa
comunicação e entendimento com as pessoas a minha volta.
Depois de algum tempo, eu já
me sentia mais confortável ali, e na segunda aula, que era com outra turma, fiquei
observando as atividades distintas que dois grupos de alunos estavam
praticando, uma coordenada pelo estagiário e a segunda sem a mesma necessidade,
e o ritmos das duas parecia se sincronizar, transformando dois exercícios
opostas em uma única melodia, a mistura do som do apto e do chute dos meninos
contra a bola perdida, na confusão de pés que a tocavam, era como música, uma
batida que causa frenesi e agitação. E foi, naquele instante que me veio o
angustiante desejo de escrever sobre o momento em questão, portanto, fiz o que minhas
mãos ansiavam e minha mente ardentemente clamava, escrevi, escrevi e escrevi!
Na maioria do tempo que estava
ali, anotei ideias que surgiam e descrevi cenas que se mostravam interessantes,
para transformar em um texto, seja qual gênero for. Talvez, tenha dado a
impressão de que, eram anotações sobre o desempenho deles, mas na realidade,
era só eu, me comportando como sempre, uma observadora, que vê em cada detalhe,
uma peculiaridade, e sente instantaneamente vontade de escrever sobre. Aliás, é
possível vestir máscaras, mas nunca mudar a sua essência, quem realmente se é.
A aula era de Educação física, no entanto a pessoa que observava, era e
continua sendo a jovem estranha, que encontrou na literatura, um meio de se
comunicar com as pessoas.
-Sheila Tinfel