sexta-feira, 7 de junho de 2019

As Complexidades da Alma de uma Artista

  Há muitos demônios dentro de mim e todos os dias eu queimo. Minha alma grita de agonia, mas isso não faz com que doa menos. A dor me consome como as chamas incandescentes de uma enorme fogueira, da mesma maneira que ela assim como a água, me envolve completamente, até que eu esteja submersa e agonize enlouquecidamente, enquanto asfixio lentamente.
A dor faz parte de mim, assim como cada célula do meu corpo. Tenho convivido com ela há muito tempo e às vezes sinto como se tivesse acostumado, mas é somente uma ilusão, pois só me sinto assim quando estou tão dopada, a ponto de não me sentir triste ou feliz, de não sentir prazer e nem o contrário. Nesses momentos, sou apenas um corpo, que faz o que é necessário para cumprir as tarefas da rotina diária, mas isso não é estar vivo, é apenas existir, como um autômato, sem sentimentos e desejos.
Eu gostaria de dizer que essas circunstâncias que costumo me encontrar, são raras, porém estaria mentindo. Quase todas as noites tenho insônia, e permaneço acordada até às seis da manhã, ora buscando alguma distração que faça a madrugada ser mais suportável, ora sou perseguida por meus delírios que ultimamente estão cada vez mais frequentes.
E isso é tão patético, pois para alguém que almeja o progresso, ama as possibilidades que o futuro pode proporcionar, ter o passado com algo recorrente em sua vida, é um tanto paradoxal. No entanto, não tenho nenhuma solução para isso. Não importa o que eu faça, tudo que é longínquo e decorrido, vem em minha mente de maneira tão viva, que é como se tudo estivesse acontecendo novamente, de maneira infinita. Talvez seja por isso que meus delírios pareçam tão palpáveis e concretos, pois um dia todos eles já foram reais.
Portanto, é principalmente nessas noites solitárias e delirantes, que tenho imaginado se vou acabar em um hospício, buscando distinguir a realidade da fantasia, sem nunca conseguir ou então, vou ficar sozinha até o meu último segundo de vida, porque não posso me encaixar em um mundo que eu quase nunca estou verdadeiramente. Embora a solidão seja algo que aprecio, sei que em demasia, mesmo ela, pode causar sofrimento.
Enfim, talvez a dor seja uma constante e a felicidade uma variável, e no meu caso a arte é razão dessa variável existir. Na literatura sou inúmeras pessoas e estou em diversos lugares e tenho controle sobre os mundos que crio, já no desenho represento tudo e o nada ao mesmo tempo. A fantasia, a ficção, mesmo que tenha como base a realidade, todos sabemos que é uma ilusão. De certa forma nos deixa protegidos e livres. Essa é a única forma de me manter em pé e suportar o insuportável. E você, caro leitor(a)? Foi salvo(a) pela arte também?
- Sheila Tinfel
07/06/2019

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