O Romance proibido: O Seminarista e uma Bela Flor
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu no dia 15
de agosto de 1825, em Ouro Preto.
Em
1852, publica seu primeiro livro, Cantos da Solidão, de poesias e além
de várias outras obras publicadas, ele é o autor de Escrava Isaura, além de O Seminarista que foi publicado pela
primeira vez no ano de 1872, século XIX. É uma romance, baseada no problema do
celibato clerical, uma bela história, que trás a inocência de dois jovens,
envolvidos pelo amor cultivado desde a infância, porém o futuro lhes guardava
algo um tanto importuno, por assim dizer.
Margarida
e Eugênio foram criados juntos, de maneira que se tornaram grandes amigos
inseparáveis. Ela era afilhada da mãe de Eugênio e do pai dele, Antunes.
Umbelinda,
mãe de Margarida, ficou viúva e não tinha onde morar, portanto Antunes cedeu
uma moradia, no mesmo terreno em que moravam, e ela conseguia ganhar dinheiro, vendendo
verduras em sua venda, assim conseguindo sustentar-se a si mesma e a sua filha.
A
partir desse momento, começou ali uma inacreditável história. Passou-se algum
tempo, até acontecer um evento inesperado, Eugênio e Margarida brincavam como
de costume, até que ela se separou dele e da babá que estava cuidando deles, e
ali no quintal apareceu uma cobra que se enrolou nela. Quando Eugênio viu o que
estava acontecendo, gritou por sua mãe, que veio rapidamente, junto de
Umbelinda, que estava aterrorizada com a cena que seus olhos revelavam, porém a
cobra a soltou, sem nada fazer, sem nenhum ferimento deixar e a menina
continuava sorridente, como se tudo aquilo não passasse de apenas uma
brincadeira inocente, que não havia riscos para se preocupar.
A
senhora Antunes, que acreditava em crendices tolas, afirmou que aquele evento,
só poderia ser obra do demônio, que buscava roubar a alma de Margarida, e a
comparava com Eva, dizendo que aquela cobra viera atiçá-la, para encaminhá-la
para o mau caminho, da perdição e da depravação.
Depois
desse acontecimento curioso, a vida seguiu tal qual como era, e as duas
crianças jamais deixaram de se divertir juntas.
No
entanto tudo que está por vir é e sempre será algo incerto, e, portanto, sempre
podemos criar inúmeras suposições, mas nunca afirmar algo, em plena
consciência. Então, alguns anos depois, Eugênio, foi para um seminário estudar,
e esse foi um dos momentos mais difíceis para os dois jovens, que até pouco
tempo, jamais deixaram de ficar um perto do outro por mais de algumas horas,
pois só se separavam a noite, quando cada um voltava para sua casa, para
dormir.
Naquela
época, era muito nobre se tornar um padre, entregar-se ao trabalho de “manter o
rebanho de Deus, juntos e em união”, portanto, muitas famílias ficariam
grandiosamente honradas e felizes se seus filhos servi-se ao Clero, mas como a
vontade de cada um é felizmente individual, portanto nem sempre esses filhos
corresponderiam à vontade de seus pais.
Eugênio
achava incrível a ideia de se tornar um padre e era um menino muito esforçado
em relação aos seus estudos, e por consequência disso, todos o admiravam, porém
ele jamais se esqueceu de sua tão estimada amiga, assim sendo, nos momentos de
descanso, gostava de se sentar na grama e olhar para o horizonte, e sonhar com
tão bela criatura, além de escrever versos para ela, porém ele jamais
imaginaria que o afeto que tinha por Margarida, seria algo profano e que
deveria ser alvo de repulsa por sua parte.
Os seus
versos, ainda não eram completos e tinham algumas imperfeições, porém, seria
perfeitamente louvável que chamasse atenção de alguém que nutrisse dentro de si
mesmo, expectativas quanto aos sentimentos que não compreendia e ainda sim,
jamais deixaria de sentir.
Logo
abaixo estão alguns exemplos de seus versos, cheios de ingenuidade infantil e
ao mesmo tempo a necessidade de estar com a sua tão amada e doce menina.
Longe
de teus lindos olhos,
O´
Margarida,
Passo
a noite, passo o dia,
Em
cruel melancolia;
Ai!
Triste vida!
................................................................................................................................
Que
importa estejas ausente
O'
bem querida;
O
teu formoso semblante
Estou
vendo a cada instante,
O'
Margarida.
(pág.29)
O padre regente encontrou tais versos e os recriminou
de imediato, mostrou para o padre-mestre diretor, que desaprovou tudo que ali
naqueles papeis estava escrito. Chamou Eugênio e este foi, sem ainda
compreender, por qual razão, haveria de ser solicitada a sua presença, se não
havia feito nada de errado.
Ele
teve uma conversa desagradável, já que fora severamente repreendido e ainda
houve a necessidade de auto castigar-se para se livrar daqueles pecados
indesejáveis.
Eugênio
cumpriu tudo aquilo que lhe foi aconselhado a se fazer, e com muito pesar,
lutou contra aquela paixão, e com o tempo seu corpo foi se tornando algo cada
vez mais frágil e seu sorriso, antes sempre visível, agora se tornara uma mera
lembrança.
Seus
pais pediam, por cartas para que ele voltasse para casa, para que pudesse tirar
umas férias, e assim poder acabar com a saudade que dele sentiam porem o
padre-mestre diretor, sempre advertia, afirmando que ele ainda precisava
continuar ali, afim de não correr o risco de desvirtuar- se.
Por
mais algum tempo, tudo continuou com a mesma monotonia do dia-a-dia, ou seja,
estudar, praticar penitências, pedir a Deus que o fizesse esquecer Margarida e
que o ajudasse a conseguir manter-se firme até alcançar seu objetivo, porém o
abatimento dele exigia cuidados, pois ele parecia ter se tornado e um miserável
ser, que buscava encontrar sua vida, que deixara perdida em um deserto
esquecido pelo resto da humanidade, era como uma alma pagã, que buscava sua
rendição, em meio ao escuro de uma noite interminável, portanto Eugênio foi
liberado para passar algum tempo em casa, o que trouxe enorme felicidade a seus
pais.
Ao
chegar lá, se demonstrou envergonhado, fazia muito tempo que não via seus pais,
a senhora Umbelina e a Margarida, que agora parecia ainda mais bela, ela em
nada se parecia com aquela criança de outrora, e isso causou em Eugênio uma
confusa mistura de sentimentos, que ele próprio não tinha controle.
Com o
tempo, fora novamente se afeiçoando, a todos ali, e com isso o amor que por
Margarida, que antes parecia se não extinguido, pelo menos quase que esquecido,
agora voltara e trouxe novamente ao seu coração a angústia de tê-la.
Ele
jamais deixara de lutar contra tais sentimentos, porém o que sente por ela é
mais forte e persistente, então acabam se encontrando, engana seus pais, para
que possam ver-se, porém em algum momento a aventura sempre acaba e a monotonia
do dia-a-dia volta.
Os
pais de Eugênio descobrem as suas façanhas e ele acaba voltando para o
seminário, mas ele havia jurado que não se tornaria padre, para poder com ela
viver o que há tanto tempo sonhara, mas infelizmente os seus pais mentem que
Margarida havia se casado, e assim ele acredita que fora um tolo em nutrir tais
sentimentos, por alguém que jurou lhe esperar, porém o traiu sem nem ao menos
sentir remorso por isso.
Assim
que ele sai do seminário e se torna padre, ele descobre que tudo não passou de
um engano e que a traição que ele acreditou ter sofrido, não era de sua amada,
mas de seus pais. Isso o deixou angustiado, irritado e percebeu que ali, desde
que conheceu Margarida, havia travado uma batalha sem fim, que buscou sua vida
inteira, a sua felicidade e ao mesmo tempo a de seus pais, porém ele deveria
escolher, qual seria a mais importante, realizar o seu sonho e de sua amada ou
a de seus pais, e se viu em um paradoxo, pois se fizesse a ela e a si mesmo,
feliz, então destruiria a felicidade daqueles que proporcionaram possível o seu
nascimento e assim haveria tristeza, e se fizesse o contrário, ainda sim não
encontraria felicidade por completo.
De
qualquer maneira é difícil poder afirmar que existe plena felicidade, é
necessário conviver com a dor, não possuímos a escolha entre esses dois
extremos: alegria e tristeza, o que em alguns momentos conseguimos encontrar é
o mínimo de equilíbrio entre os dois.
Enfim,
logo em seguida dessas novas descobertas, por um simples acaso da vida Eugênio
se vê perto de Margarida novamente, mas agora, sua amada mais triste, esperando
pela morte, porém apresentando fisicamente estar bem, mas o que muitas vezes
não é possível compreender, é que nem sempre o que aparentamos é real e por
esse e outros motivos é que a vida se torna surpreendente.
Então,
a dois finais possíveis nessa intrigante e fascinante história: Eugênio pode
desistir de ser padre, largar a batina e decepcionar seus pais, e assim viver o
grande amor que ele e Margarida sonharam em viver juntos, ou a pobre menina,
pode sofrer muitos outros possíveis fins e ele continuar sendo um padre,
dedicado, porém um homem frustrado e triste.
Obviamente que
poderá haver muitos outros finais de O Seminarista, que muitos outros leitores
podem encontrar, antes de chegar a última e esperada página dessa história que
nos trás uma grande lição, ou seja, desistir daquilo que nos faz feliz, é
condenar-se a si mesmo e a própria vida.