terça-feira, 9 de maio de 2017

RESENHA CRÍTICA: O Seminarista - Bernardo Guimarães





O Romance proibido: O Seminarista e uma Bela Flor
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães nasceu no dia 15 de agosto de 1825, em Ouro Preto.
            Em 1852, publica seu primeiro livro, Cantos da Solidão, de poesias e além de várias outras obras publicadas, ele é o autor de Escrava Isaura, além de O Seminarista que foi publicado pela primeira vez no ano de 1872, século XIX. É uma romance, baseada no problema do celibato clerical, uma bela história, que trás a inocência de dois jovens, envolvidos pelo amor cultivado desde a infância, porém o futuro lhes guardava algo um tanto importuno, por assim dizer.
            Margarida e Eugênio foram criados juntos, de maneira que se tornaram grandes amigos inseparáveis. Ela era afilhada da mãe de Eugênio e do pai dele, Antunes.
            Umbelinda, mãe de Margarida, ficou viúva e não tinha onde morar, portanto Antunes cedeu uma moradia, no mesmo terreno em que moravam, e ela conseguia ganhar dinheiro, vendendo verduras em sua venda, assim conseguindo sustentar-se a si mesma e a sua filha.
            A partir desse momento, começou ali uma inacreditável história. Passou-se algum tempo, até acontecer um evento inesperado, Eugênio e Margarida brincavam como de costume, até que ela se separou dele e da babá que estava cuidando deles, e ali no quintal apareceu uma cobra que se enrolou nela. Quando Eugênio viu o que estava acontecendo, gritou por sua mãe, que veio rapidamente, junto de Umbelinda, que estava aterrorizada com a cena que seus olhos revelavam, porém a cobra a soltou, sem nada fazer, sem nenhum ferimento deixar e a menina continuava sorridente, como se tudo aquilo não passasse de apenas uma brincadeira inocente, que não havia riscos para se preocupar.
            A senhora Antunes, que acreditava em crendices tolas, afirmou que aquele evento, só poderia ser obra do demônio, que buscava roubar a alma de Margarida, e a comparava com Eva, dizendo que aquela cobra viera atiçá-la, para encaminhá-la para o mau caminho, da perdição e da depravação.
            Depois desse acontecimento curioso, a vida seguiu tal qual como era, e as duas crianças jamais deixaram de se divertir juntas.
            No entanto tudo que está por vir é e sempre será algo incerto, e, portanto, sempre podemos criar inúmeras suposições, mas nunca afirmar algo, em plena consciência. Então, alguns anos depois, Eugênio, foi para um seminário estudar, e esse foi um dos momentos mais difíceis para os dois jovens, que até pouco tempo, jamais deixaram de ficar um perto do outro por mais de algumas horas, pois só se separavam a noite, quando cada um voltava para sua casa, para dormir.
            Naquela época, era muito nobre se tornar um padre, entregar-se ao trabalho de “manter o rebanho de Deus, juntos e em união”, portanto, muitas famílias ficariam grandiosamente honradas e felizes se seus filhos servi-se ao Clero, mas como a vontade de cada um é felizmente individual, portanto nem sempre esses filhos corresponderiam à vontade de seus pais.
            Eugênio achava incrível a ideia de se tornar um padre e era um menino muito esforçado em relação aos seus estudos, e por consequência disso, todos o admiravam, porém ele jamais se esqueceu de sua tão estimada amiga, assim sendo, nos momentos de descanso, gostava de se sentar na grama e olhar para o horizonte, e sonhar com tão bela criatura, além de escrever versos para ela, porém ele jamais imaginaria que o afeto que tinha por Margarida, seria algo profano e que deveria ser alvo de repulsa por sua parte.
            Os seus versos, ainda não eram completos e tinham algumas imperfeições, porém, seria perfeitamente louvável que chamasse atenção de alguém que nutrisse dentro de si mesmo, expectativas quanto aos sentimentos que não compreendia e ainda sim, jamais deixaria de sentir.
            Logo abaixo estão alguns exemplos de seus versos, cheios de ingenuidade infantil e ao mesmo tempo a necessidade de estar com a sua tão amada e doce menina.
                                    Longe de teus lindos olhos,
                                    O´ Margarida,
                                    Passo a noite, passo o dia,
                                    Em cruel melancolia;
                                    Ai! Triste vida!
................................................................................................................................
                                    Que importa estejas ausente
                                    O' bem querida;
                                    O teu formoso semblante
                                    Estou vendo a cada instante,
                                    O' Margarida.                                              
(pág.29)
O padre regente encontrou tais versos e os recriminou de imediato, mostrou para o padre-mestre diretor, que desaprovou tudo que ali naqueles papeis estava escrito. Chamou Eugênio e este foi, sem ainda compreender, por qual razão, haveria de ser solicitada a sua presença, se não havia feito nada de errado.
            Ele teve uma conversa desagradável, já que fora severamente repreendido e ainda houve a necessidade de auto castigar-se para se livrar daqueles pecados indesejáveis.
            Eugênio cumpriu tudo aquilo que lhe foi aconselhado a se fazer, e com muito pesar, lutou contra aquela paixão, e com o tempo seu corpo foi se tornando algo cada vez mais frágil e seu sorriso, antes sempre visível, agora se tornara uma mera lembrança.
            Seus pais pediam, por cartas para que ele voltasse para casa, para que pudesse tirar umas férias, e assim poder acabar com a saudade que dele sentiam porem o padre-mestre diretor, sempre advertia, afirmando que ele ainda precisava continuar ali, afim de não correr o risco de desvirtuar- se.
            Por mais algum tempo, tudo continuou com a mesma monotonia do dia-a-dia, ou seja, estudar, praticar penitências, pedir a Deus que o fizesse esquecer Margarida e que o ajudasse a conseguir manter-se firme até alcançar seu objetivo, porém o abatimento dele exigia cuidados, pois ele parecia ter se tornado e um miserável ser, que buscava encontrar sua vida, que deixara perdida em um deserto esquecido pelo resto da humanidade, era como uma alma pagã, que buscava sua rendição, em meio ao escuro de uma noite interminável, portanto Eugênio foi liberado para passar algum tempo em casa, o que trouxe enorme felicidade a seus pais.
            Ao chegar lá, se demonstrou envergonhado, fazia muito tempo que não via seus pais, a senhora Umbelina e a Margarida, que agora parecia ainda mais bela, ela em nada se parecia com aquela criança de outrora, e isso causou em Eugênio uma confusa mistura de sentimentos, que ele próprio não tinha controle.
            Com o tempo, fora novamente se afeiçoando, a todos ali, e com isso o amor que por Margarida, que antes parecia se não extinguido, pelo menos quase que esquecido, agora voltara e trouxe novamente ao seu coração a angústia de tê-la.
            Ele jamais deixara de lutar contra tais sentimentos, porém o que sente por ela é mais forte e persistente, então acabam se encontrando, engana seus pais, para que possam ver-se, porém em algum momento a aventura sempre acaba e a monotonia do dia-a-dia volta.
            Os pais de Eugênio descobrem as suas façanhas e ele acaba voltando para o seminário, mas ele havia jurado que não se tornaria padre, para poder com ela viver o que há tanto tempo sonhara, mas infelizmente os seus pais mentem que Margarida havia se casado, e assim ele acredita que fora um tolo em nutrir tais sentimentos, por alguém que jurou lhe esperar, porém o traiu sem nem ao menos sentir remorso por isso.
            Assim que ele sai do seminário e se torna padre, ele descobre que tudo não passou de um engano e que a traição que ele acreditou ter sofrido, não era de sua amada, mas de seus pais. Isso o deixou angustiado, irritado e percebeu que ali, desde que conheceu Margarida, havia travado uma batalha sem fim, que buscou sua vida inteira, a sua felicidade e ao mesmo tempo a de seus pais, porém ele deveria escolher, qual seria a mais importante, realizar o seu sonho e de sua amada ou a de seus pais, e se viu em um paradoxo, pois se fizesse a ela e a si mesmo, feliz, então destruiria a felicidade daqueles que proporcionaram possível o seu nascimento e assim haveria tristeza, e se fizesse o contrário, ainda sim não encontraria felicidade por completo.
            De qualquer maneira é difícil poder afirmar que existe plena felicidade, é necessário conviver com a dor, não possuímos a escolha entre esses dois extremos: alegria e tristeza, o que em alguns momentos conseguimos encontrar é o mínimo de equilíbrio entre os dois.
            Enfim, logo em seguida dessas novas descobertas, por um simples acaso da vida Eugênio se vê perto de Margarida novamente, mas agora, sua amada mais triste, esperando pela morte, porém apresentando fisicamente estar bem, mas o que muitas vezes não é possível compreender, é que nem sempre o que aparentamos é real e por esse e outros motivos é que a vida se torna surpreendente.
            Então, a dois finais possíveis nessa intrigante e fascinante história: Eugênio pode desistir de ser padre, largar a batina e decepcionar seus pais, e assim viver o grande amor que ele e Margarida sonharam em viver juntos, ou a pobre menina, pode sofrer muitos outros possíveis fins e ele continuar sendo um padre, dedicado, porém um homem frustrado e triste.
 Obviamente que poderá haver muitos outros finais de O Seminarista, que muitos outros leitores podem encontrar, antes de chegar a última e esperada página dessa história que nos trás uma grande lição, ou seja, desistir daquilo que nos faz feliz, é condenar-se a si mesmo e a própria vida.

             

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

A Arte É Liberdade

A arte transcende a moralidade e nós artistas, não devemos levar em conta a moral e a ética, porque ao nos preocuparmos com essas questõ...