domingo, 13 de janeiro de 2019

Enquanto...


Enquanto não amanhecer, ela estará em meus braços, poderei acariciar seus cabelos e sentir seu doce perfume. Mas quando o Sol nascer e iluminar o quarto, ela abrirá as cortinas, me beijará com seus lábios quentes, irá sorrir e com os olhos marejados, dará as costas para mim, chegará a porta e então irá embora.
E esse foi o último dia que eu a vi.
Depois dela sair de casa, acabou sofrendo um acidente e não resistiu.
O homem sentado ao meu lado do banco, com cara de assustado, ponderou por um momento e então me perguntou:
- Se já aconteceu, por que conta a história como se estivesse a vivendo no presente?
-Porque eu estou. Porque sinto a dor da perda todos os dias... E reviver a história assim, as minhas últimas horas com ela, ameniza a dor. Faz com que pareça que ela está aqui... Comigo.
O homem que escutou a história de como perdi o amor da minha vida, se levantou, pegou sua garrafa de vodca, bebeu um gole e disse:
- Siga em frente.
Ele saiu. E eu continuei ali, em pé, de frente para o balcão, observando meu copo de whisky e pensei: " Eu já tentei seguir em frente... ainda tento, todos os dias, cada minuto da minha vida. Cada minuto...".


-Sheila Tinfel

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

A Arte É Liberdade

A arte transcende a moralidade e nós artistas, não devemos levar em conta a moral e a ética, porque ao nos preocuparmos com essas questõ...