segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Peça Quebrada

 

Sou desajustada? Sim. Não me importo mais. No início você não percebe, mas com o tempo começa a compreender que ser livre e enxergar o mundo como um Condor é estranho para a maioria das pessoas. São inúmeras normas sociais, padrões estéticos e comportamentais. Tudo isso é tão cansativo, não acha?

Quando eles me encaram eu os olho de volta e percebo que mais parecem marionetes do que pessoas. Imagino que deve ser exaustivo sempre se adaptar para caber no molde. Fingir ser confiante, genial, produtivo, feliz, realizado e um modelo de moralidade.

Nunca fui capaz de ser aquilo que esperam de mim, porque sou aquela peça quebrada do quebra-cabeça, a nota musical destoante do restante da melodia, mas não me preocupo com isso. Não posso apagar o que sou de fato para criar uma personagem patética.

Às vezes me sinto solitária e perdida, porém é melhor do que a sufocante atuação de alguém que não existe. Não me importo que façam seus julgamentos sobre mim enquanto me olham ou que finjam tentar esconder seus risos abafados. De certa maneira é engraçada toda essa situação, porque enquanto acreditam ser superiores aos outros, se tornarão comida de vermes como qualquer um.

Enfim, humanos...

- Sheila Tinfel

02/09/2024

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Crônica de uma professora azarada

     O mês de julho: Tudo começou quando comecei a passar mal, me sentia tonta e eu sempre acabava minhas noites no Pronto Socorro porque minha pressão baixava muito. Descobri ser efeito colateral de um dos remédios que tomava de uso contínuo. Então, o médico trocou por outro. Estava indo (quase) tudo bem e novamente adoeci. Vomitava e não conseguia comer, o que me levou a perder muito peso e ficar debilitada. Fui em vários médicos, nada adiantava. Por isso paguei consulta particular e o exame, então descobri que era gastrite. Tomei os medicamentos necessários e restringi a minha dieta, não podia comer muita coisa que gosto (ainda não posso), porém melhorei (embora o tratamento dure cinco meses). Infelizmente quando comecei a me sentir melhor, acabei tendo sinusite e os antibióticos pioraram o que estava controlado, mas felizmente a sinusite acabou e o estômago acalmou.

Enquanto tudo isso acontecia, algo mais estava incomodando: a visão. Percebi que não conseguia enxergar direito nem longe, nem perto, a luz irritava meus olhos e costumava coçar e arder. A questão é que troquei os óculos três meses antes, portanto não deveria estar enxergando tão mal. O oftalmologista avisou que se isso acontecesse era para voltar e fazer exames. Sim, era meu plano, porém gastei muito com o tratamento da gastrite. Se fosse somente isso ainda seria razoável, mas nesse mesmo mês meu carro estragou duas vezes: uma em que ele desligou na ponte em uma noite chuvosa, portanto, foi bem complicado, porque não estava conseguindo nenhum guincho para rebocar meu carro e os vidros não fechavam, então chovia muito no interior do veículo. Felizmente horas depois um guincho salvador veio me buscar. Cheguei em casa e adivinha? Meu celular estava sem bateria, mas não carregava, porque havia entrado água nele. Sequei com o secador e deu certo, porém de manhã a parte de trás do celular descolou! A segunda ocasião foi justamente na manhã em que as aulas voltaram e meu carro não ligou, portanto, meu noivo me levou para o trabalho (atrasei seis minutos). Outra vez precisei de guincho, no entanto, dessa vez foi direto para oficina e lá ficou um dia e meio. 

    Foi assim que gastei meu salário, o limite do meu cartão e o cheque especial, além de não poder ter consultado com o oftalmologista! Enfim, caro leitor, a vida de fato é engraçada.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Transformação


 Você costuma se olhar no espelho todos os dias? Porque eu tenho evitado. Pois quando olho vejo algo que abobino. 

Uma pessoa cansada de lutar, exausta e ferida. Atormentada por todas as lembranças que insistem em enfiar a faca afiada no centro do coração.

Odeio reconhecer que a mulher idealista, sonhadora e esperançosa foi enterrada na escuridão. Agora somente sinto ódio, raiva e desespero. Ódio por tudo que me aconteceu durante todos os anos em que tentei lutar, e raiva por ter me deixado vencer. 

Desespero? Ah, sinto porque não vejo a luz no final do túnel e tenho medo de dessa vez não conseguir.

É estranho afirmar que me sinto sozinha. Mas provavelmente estou mesmo. Eu morri e a que ficou em meu lugar é inútil o suficiente para ser uma estranha em meio a tudo. 

Teve alguém que me ensinou a nunca desistir e sempre ver o lado bom das coisas. Mas confesso que sem ele aqui  fica mais difícil. Aprendi, mas quando a morte o levou ainda não estava preparada para seguir o caminho sem seu apoio. E depois ainda tinha alguém que me fazia ser forte, porque ela era uma máquina indestrutível, me libertava de todo o caos, porém pouco tempo depois de perdê-lo, ela também se foi de maneira injusta e cruel. Portanto, não interessa o quanto eu tente, parece que só vejo escuridão e dor. Todos os traumas de infância, adolescência, juventude e as perdas se tranformaram em um tisuname que me engoliu. Estou sufocada, tentando nadar sem parar, com o objetivo de chegar a areia, a terra firme e sentir a luz do Sol me iluminar. Esse é meu maior sonho.

- Sheila Tinfel 

16/07/2024

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Uma História sem Final Feliz

 

Eu a amava, mas meu amor nunca seria o suficiente. Passei algum tempo torturando a mim mesma, buscando fazê-la perceber que eu sentia algo por ela, tentando também me fazer entender que não era errado sentir o que sentia.

Naquela época eu tinha vergonha por ter me apaixonado por uma mulher. Hoje não me importo. Sempre fui desajustada, não faria diferença mais um detalhe na lista das minhas “anormalidades”.

A questão é que meu medo de ser rejeitada por ela e pelas pessoas que amava me fez engolir em seco todo e qualquer sentimento. Reprimi por tanto tempo, embora às vezes não conseguia disfarçar. Mesmo não dizendo nada, meus olhos contavam tudo. O jeito que eu olhava para ela, os momentos de transe, porque de fato aquela jovem me fascinava de tal maneira, que nunca consigo descrever de forma precisa.

Ah, caro leitor! Aquela mulher era estonteante. Extremamente inteligente e bonita. Era um prazer ouvi-la falar sobre literatura, política ou acontecimentos banais. E um verdadeiro privilégio observar bem de perto aqueles olhos castanhos profundos.

Tudo bem! Sei que acabei a endeusando, porém, não há como negar a verdade. Levei seis anos para esquecê-la ou pelo menos o sentimento que havia em meu coração.

Moral da história? Não sejam tolos e covardes. Depois você vai ficar o resto da vida se perguntando: e se eu tivesse tentado? Nenhum de nós tem a vida toda para buscar o que queremos. O tempo passa rápido demais e quando perceber já é tarde.

- Sheila Tinfel

05/06/2024

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