sábado, 13 de julho de 2019

Vidas Humanas


Eu estava em meio a multidão, indo em direção a biblioteca municipal. Por alguns minutos me peguei observando os humanos. Todos pareciam com tanta pressa para chegar em seus destinos, a maioria estava de cabeça baixa olhando para a tela do celular, alguns sorriam ao responder uma mensagem, outros pareciam tristes ao ver algo na tela brilhante a sua frente. Haviam umas poucas pessoas que caminhavam lentamente, como se não tivessem para onde ir ou talvez não quisessem chegar onde precisavam estar.
            A vida delas parecem tão mecânica. Será que elas pensam em algo além do trabalho? Se preocupam com outras coisas além de pagar as contas? Imagino que algumas devem estar preocupadas em perder o emprego ou com uma inconveniente doença. Vendo desse jeito a vida humana parece entediante.
            Talvez esses humanos não queiram viver assim, só não conseguem encontrar outro jeito, porque gastam a maior parte do tempo trabalhando, mas ganha muito pouco e para boa parte seja até difícil comprar o básico para a sobrevivência. Mesmo os mais ricos não parecem ter tempo, pois estão presos em sua própria ganância e futilidade, ou seja, querem ter sempre cada vez mais dinheiro e ainda se sentem pressionados a adquirir todos os anos modelos novos de aparelhos eletrônicos e automóveis, como se não fizerem isso, seriam considerados anormais pela própria sociedade a que pertencem.
            Todos os dias os humanos que estão indo fazer suas compras, passear ou ir trabalhar, encontram outros humanos na rua que estão passando fome, sede e frio, mas quase ninguém os percebe, é como se fossem invisíveis. Os seres humanos sobrevivem porque são inteligentes e unidos, mas falta-lhes sabedoria e pelo que percebo estão perdendo a capacidade de serem empáticos, e dessa forma acho difícil que sobrevivam por muito mais tempo.
            Seria estranho não ter seres humanos por aqui, mas com o tempo, a existência deles acabará sendo apagada completamente. Quantos desses humanos pensam na extinção de sua espécie e em coisas abstratas, que nada tem a ver com dinheiro e bens materiais? Pelo que tenho percebido muito poucos e parece que quem pensa é visto como louco pelos néscios.
            ***
Quando conclui esse pensamento, e sai de meus devaneios percebi que havia chegado à biblioteca e então me dei conta que também sou humana. As vezes esqueço!

- Sheila Tinfel Cordeiro
08/07/2019

terça-feira, 9 de julho de 2019

Sejamos Revolução!


Governo opressor
É inimigo do professor
Porque vê no educador
Um perigo a sua permanência no poder

Fascistas
Perseguem
Jornalistas
Artistas
Professores
E todos que se opõe aos seus absurdos

Governo autoritário
Constituído de ignorantes
E falsos moralistas

Todos são hipócritas
Que se dizem patriotas
mas idolatram outro país
Que se dizem cristãos
mas apoiam a violência
A tortura
E a morte
Que se dizem gênios
mas acreditam em terra plana
e fazem do aquecimento global uma piada

São cretinos
Lobos em pele de cordeiro
Fracassados que se sentem inferiores
Por isso oprimem e humilham
quem bem entendem
Tudo para enganar a si mesmos
Para se sentirem superiores

São tolos
Mas perspicazes
Encontram seguidores
Igualmente estúpidos
Que dão respaldo aos seus disparates

Ovelhas que idolatram o lobo
Que se sentem representadas
Pois agora tem no poder
Alguém tão ignorante
Preconceituoso
Racista
Sexista
E dissimulado
Quanto eles

Mas a luta continua
Porque ainda que poucos,
Temos uns aos outros
E nunca deixaremos
De lutar pela justiça
Mostrar a verdade
E iluminar o caminho
Que nos levará a dias melhores

-Sheila Tinfel

08/07/2019

Vivendo no Passado


Eu gostaria de poder
Ter dito a você que lhe amava
De ter lhe abraçado mais vezes
De ter sentido seus lábios nos meus
ao menos uma única vez

Queria poder ter lhe elogiado
em mais ocasiões
Ter sentido o seu perfume mais de perto
E mostrar tudo o que sentia por você

Eu quis muito
Eu tentei muito
Mas não fiz nada

Eu tinha medo de que você
não correspondesse aos meus sentimentos
E medo de que todas as minhas peculiaridades
lhe assustassem

Eu fui embora
Mas você sempre vai ser
o motivo pelo qual sorrio
A musa das minhas poesias
E a lembrança mais bonita do meu passado

Sempre vou ser apaixonada
por cada detalhe seu

Sempre lembrarei com ternura
Do seu olhar doce
Do seu sorriso meigo
E dos fios dourados dos seu cabelo
caído sobre seus ombros

E continuarei sonhando
Com tudo que poderíamos ter sido
E vivido

- Sheila Tinfel
08/07/2019

sexta-feira, 5 de julho de 2019

O Prisioneiro de Si Mesmo

Minha mente é meu cárcere
E só na poesia encontro liberdade

Minha mente me aprisiona em sua confusão delirante
E acabo me perdendo, enquanto tento
distinguir a realidade da fantasia

Mesmo quando adormeço
não encontro a paz
Pois, todas as noites
me afogo em pesadelos
assustadoramente realistas

Sou prisioneiro de mim mesmo
Não vejo a luz do Sol há muito tempo
E não encontro a saída
desse labirinto mental.

- Sheila Tinfel
03/07/2019

O Ponto Final?

Já era tarde da noite, e as aulas na universidade já estavam no final. Eu estava exausta, mas sou muito hiperativa independentemente da situação e me entedio facilmente, por isso resolvi sair da sala para arejar minha mente agitada. Quando eu ainda estava no corredor, próximo a porta da sala, recebi uma ligação de um número desconhecido. Atendi e a voz na outra linha telefônica perguntou: “você é a Lívia?”, confirmei e depois disso houve um longo período de silêncio. Embora eu não compreendesse o que estava acontecendo, não conseguia dizer nada também, como se eu não quisesse descobrir o motivo da inesperada ligação. Pois de fato, se pudesse escolher, preferiria nunca saber.
    Mas então a pessoa que havia me ligado finalmente quebrou o silêncio:” sinto em lhe informar isso. Raphael... bem, ham...”, ao passo que eu respondi: “por favor, fale de uma vez o que houve.” E a resposta foi devastadora: “desculpe. Ele morreu.”
    Depois de ouvir aquilo fiquei atordoada e tinha a sensação de que tudo a minha volta estava girando. Minhas pernas perderam a força e pareceria que cederiam, fazendo com que eu acabasse caindo. Mas então a pessoa da chamada telefônica, me trouxe de volta a realidade, perguntando se eu estava bem e eu ri, porque essa parecia uma pergunta retórica e até um tanto sarcástica! Bem? Como eu poderia me sentir assim, quando meu único amigo, a pessoa que eu mais me importava foi embora para o vale sombrio da morte? Então eu desliguei e me encostei a parede do corredor, e enquanto as pessoas passavam apressadas para ir embora,eu apenas fiquei ali parada, sem reação e sem saber onde ir e o que fazer, porque não havia nada que fosse capaz de ao menos amenizar aquela dor. A morte é o ponto final e eu não poderia mudar isso.
    Naquela mesma noite, me ligaram outra vez, e explicaram que um motorista bêbado bateu de frente com o carro dele. E contaram onde seria o funeral. Depois daquela ligação, fiquei imaginando se eu teria coragem de vê-lo no caixão e então percebi que era impossível. Não é ele de verdade que estaria lá, é apenas um corpo frio e sem vida. O que fazia dele ser ele, era sua consciência, todo o resto é apenas o suporte físico para ela. Quem estaria lá, não era meu amigo idealista, revolucionário e que sempre me compreendeu, mesmo quando mais ninguém era capaz de entender como eu via o mundo. Eu não poderia dizer adeus, porque ele não escutaria, não saberia. Na verdade, nunca entendi o sentido dos velórios, pois, parecem tão torturantes e inúteis, mas sei que as pessoas não veem assim e que imaginarão que eu não me importo com ele e que por isso não compareci ao seu funeral. Porém é exatamente o oposto, é por me importar que não consigo estar lá e confrontar a realidade de que ele não vai voltar.
    Foram tantas as lágrimas de desespero que derramei naquela fatídica noite, e mesmo assim a dor não me deixava.
**
    Quando abri os olhos, tudo estava praticamente escuro, a não ser por uma ínfima luz que passava pelo vão da janela ainda fechada. Me sentia exausta e confusa, então observei em volta e percebi que eu estava no meu quarto, deitada na minha cama. Me sentei de pressa, busquei pelo meu celular, vi que eram sete horas da manhã e mandei uma mensagem para o Raphael. Alguns minutos depois ele me respondeu, e então a sensação de alívio foi tão grande, que nem sei se consigo descrever com palavras. Percebi que tudo não passou de um sonho.
    Contei a ele sobre o ocorrido e fizemos um pacto de permanecermos vivos até a velhice. Espero ser capaz de cumprir essa promessa, porém mais ainda, que ele possa cumprir.
- Sheila Tinfel
04/07/2019
   

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