Era mais um dia comum, mais uma aula na universidade. Eu já
estava no segundo ano do curso de Letras Português. Naquela noite, uma jovem
que não pertencia a nossa turma entrou na sala de aula, e então descobrimos que
ela era uma nova integrante da nossa turma. Até aí tudo bem, mas o tempo foi
passando e eu fui inevitavelmente me apaixonando por ela. Susana era linda e
muito inteligente, gostava de literatura assim como eu. Pode – se dizer que eu
era a poetisa e ela a poesia.
Nos tornamos amigas, porque tínhamos muitas coisas em
comum, além do gosto pela literatura. O problema, foi que a cada dia que
passava, eu ficava mais apaixonada por ela. Naquela época eu estava tentando
descobrir quem eu era, levei tempo para perceber que ser bissexual não é uma
coisa que mereça reprovação. Não que eu tivesse algum preconceito, porque
achava normal, as pessoas se apaixonarem umas pelas outras, mesmo que sejam do
mesmo sexo. A questão é que talvez eu tenha ficado com medo, de como as pessoas
reagiriam ao saber que eu não era hetero.
Foi uma fase um tanto complicada para mim, mas ao mesmo
tempo, incrível, porque ela era fascinante e eu ficava sempre feliz em saber
que a veria.
Mas sabe como as coisas são, ela tinha namorado e eu
também. Eu estava em um relacionamento tóxico, no qual ele me manipulava e me
chantageava, usando meus próprios sentimentos contra mim. Demorei, mas consegui
escapar das suas garras, terminei com ele. Mas Susana ainda estava com o
namorado dela, apesar de ele ser um rapaz não muito bom também.
Naquela época, eu não me importava muito como as coisas
estavam se encaminhando, pois, eu já ficava satisfeita de ver ela de segunda a
sexta e de poder trocar mensagens com ela. Mas o tempo passou e eu comecei a
sentir ciúmes dela... Foi então que percebi que eu poderia acabar me
machucando.
Tinha momentos em que ela terminava com o namorado dela, e aí
ela me dava sempre uma atenção diferente e eu amava aquilo. Mas sempre durava
muito pouco. Só servia para deixar meu coração mais apaixonado e também mais
frustrado.
O tempo foi passando e eu fui perdendo a capacidade de
esconder meus sentimentos por ela e principalmente quando ela olhava em meus
olhos, pois ela tinha o poder de desnudar minha alma, no fundo ela sabia que eu
estava perdidamente apaixonada.
Nós passamos três anos assim, sendo amigas e nada mais que
isso. Então havia chegado o dia da formatura, eu estava feliz, porque
finalmente tínhamos conseguido nos formar, mas também fiquei triste, pois sabia
que a distância e o tempo nos manteriam uma longe da outra.
Naquele dia, ela me levou na mesa dela e uma mulher, que
até hoje não sei quem é, deve ser parente dela. Mas enfim, ela disse “há, então
essa é a famosa Sabrina”, então pensei comigo: talvez ela falasse de mim para
os outros, talvez ela correspondesse meus sentimentos. Na hora do baile, o
namorado dela passou com ela na minha frente e me olhou com uma expressão de
sarcasmo. Odiei ele de uma maneira que não há palavras para descrever. Eu
sentia ódio e inveja, porque ele poderia não só a abraçar, mas também beijá-la,
passar um bom tempo com ela, ele poderia mergulhar na profundidade daquele
olhar, sem medo de revelar seus segredos.
Nós duas éramos as oradoras da nossa turma. Subir no palco
com ela foi emocionante. Aquela noite foi a última vez que a vi pessoalmente.
Desde então, raras vezes conversávamos por mensagem, e uma vez, eu contei a ela
que na época da universidade, eu era apaixonada por ela e que havia escrito
muitos poemas para ela. Claro, eu menti, eu não era, ainda sou apaixonada por
ela.
Faz uns três anos que não a vejo e também faz muito tempo
que não converso com ela, apenas comento em suas fotos nas redes sociais.
Atualmente ela está com um outro namorado, espero que ele
esteja sendo tão bom quanto ela merece. Eu também comecei a namorar, fiz essa
escolha porque achei sinceramente que eu tinha superado meu amor platônico, mas
quanto mais os dias passam, mais percebo que eu estava errada. Claro, amo meu
namorado, porém ela é alguém inesquecível e vou me arrepender pelo resto da
vida por não ter me declarado para ela antes. Eu tinha medo de contar a ela e
perder nossa amizade. Porém, se eu tivesse feito isso, talvez estaríamos juntas
agora.
- Sheila Tinfel
13/04/2021