sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Olhos azuis... Os misteriosos olhos azuis



Estou correndo... correndo... correndo.
Mas correndo do quê? E por quê? Da dor? Do medo? De alguém?
Não consigo me lembrar, no entanto me parece impossível parar de correr. Não sei nem mesmo se isso é real. Porém sinto as gotas de chuva que caem sobre mim, e o vento, tocando meu rosto. Meu coração bate de maneira descontrolada e meus pés doem, estou exausta, mas não posso parar de correr.
Olho em volta, e tudo que vejo, é o céu acima de mim, escuro e mais nada. Não consigo enxergar o chão abaixo de meus pés, só senti-lo. Se é que realmente estou o sentindo. Não entendo... como poderia entender? Não sei o que estou fazendo aqui, ou onde é “aqui”.  Por mais que me esforce, a única coisa que continuo vendo é o céu cinza e agora um par de olhos, tão azuis e fascinantes, quanto o oceano. Aqueles olhos pareciam me vigiar, não importava o quanto eu corresse. Será que era dele que eu corria? Então eu estava fugindo? Isso é angustiante e estou começando a ... De que isso importa, não sei nem quem sou! Aliás, o que sei? Que estou presa em um delírio, ou será tudo verdade? E se for fantasia, porque não seria verdade?
O que estou fazendo? Fazendo tantas perguntas a quem? A mim mesma, porque não há ninguém além de mim aqui, ou há?
Como posso sentir as gostas de chuva, se não posso vê-las, mesmo enxergando o céu? Nem o barulho, escuto. Mas aqueles olhos azuis, continuam me vigiando, e parecem estar chorando.
-Olá!
Meu corpo todo dói, e a estou deitada em uma cama. Estou deitada? Eu estava dormindo?
-Se acalme, você precisa descansar.
- Quem é você?
- A enfermeira. Você está no hospital...
Enquanto ela falava, olhei em volta e vi pela janela que chovia.
-Está chovendo.
-Sim, desde ontem.
-Isso não foi uma pergunta. Espera... desde ontem?
-Sim.
-Ontem. O que houve ontem?
- Você e seu marido sofreram um acidente.
- Heitor. Olhos azuis.
-Como?
-Nada.
-Enfim, eu sinto muito.
-Por quê? Por que sente muito?
- O motorista perdeu o controle do carro, e acabou batendo em vocês dois, na ponte. Você caiu no asfalto, mas ele acabou sendo jogado no rio. Ele faleceu.
-Eu... ah, eu lembro... Só... não. Isso não é real!
- Infelizmente é.
-Não. NÃO! Não.
- A senhora está muito agitada, vou lhe aplicar um sedativo.
-Como se isso fizesse a dor ir embo... olhos... olhos azuis.
-Sheila Tinfel


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sábado, 24 de novembro de 2018

Amor, uma maldição?



Eu estou velha, e muito cansada. Acabo esquecendo das coisas, na maioria das vezes, mas as lembranças que tenho de você, ainda vivem em mim, e meu coração sangra toda vez que lembro...
Você tinha olhos encantadores. Hipnotizantes na verdade. O seu sorriso iluminava o meu dia, e antes a vida parecia mais suportável, por tê-la ao meu lado, mesmo que fosse apenas para observá-la de longe, ou conversar sem poder lhe tocar. Ah, querida... tantas vezes me imaginei lhe abraçando, acariciando seus longos cabelos castanhos e beijando os seus lábios macios, sentindo seu perfume de perto, sem nenhum receio, sem culpa, sem medo. Apenas você e eu, deitadas na cama, vendo pela janela a noite chegar, e apresentar toda a majestade luminosa das estrelas e da Lua. Mas, como sempre, não passaram de sonhos.
Esse amor é minha maldição e a imbecilidade animalesca de quem deveria lhe amar matou você, e assassinou uma parte de mim junto.
Eu ainda lembro do gosto do seu beijo, do primeiro e único beijo... Você estava tão sorridente, tão serena, e segurei uma de suas mãos, enquanto olhava nos seus olhos castanhos vívidos, senti sua respiração tão próxima do meu rosto, e então toquei sua face com minha mão, deslizei meus dedos por seus lábios, e você aproximou sua boca da minha, mas permaneceu inerte, até eu lhe beijar, e sentir você. Sensação inebriante, uma mistura de paz e desejo. Porém seu pai puxou seu braço e eu a perdi para sempre. Lágrimas escorriam pelo seu rosto, e sei quanta dor os seus olhos expressavam, e sei também quanto desespero havia em seus gritos. Tentei fazê-lo parar, eu tentei. Implorei. Ele não me ouvia, continuava lhe batendo. Não consegui soltá-la dos braços dele. E quando você caiu no chão, eu corri para perto, tentei tirá-la dali, mas seu pai bateu com o porta-retratos, na minha cabeça e me chutou. Então... era tarde demais, ele lhe puxou pelo braço mais uma vez, e a jogou contra a parede. Sua cabeça sangrava e meu coração se partia em inúmeros pedaços.
Depois daquilo, ele foi preso. Mas você se foi, para sempre. Éramos jovens sonhadoras, idealistas. Hoje, eu vejo o mundo de outra maneira e é bem mais cruel e a vida mais amarga. Ainda guardo a foto de nós duas, naquele nosso último verão, juntas, que estava no porta-retratos, quebrado, caído no chão do seu quarto.
Tanto tempo se passou e a dor continua intensa. A saudade e a culpa me consomem, a solidão me afoga em um vazio angustiante. Ainda lhe amo, e continuo escrevendo essas cartas para você. Nunca serão lidas, no entanto é o mais próximo que consigo chegar de superar a falta que você me faz.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Os Humanos sem Humanidade



Com bárbaros não há diálogo
Entre os boçais a sabedoria não reina
Os intolerantes não respeitam as diferenças do outro
Os ignorantes não entendem argumentos
Os alienados não enxergam os fatos
Os hipócritas dizem amar, mas matam

Os sábios
Lutam contra a barbárie
Levam paz, por onde passam
Carregam no peito, amor pelo mundo
Trazem no olhar a esperança
sem deixar de ver a realidade que os cerca
Reconhecem a dor do outro

Em tempos de brutalidade
É preciso ser luz na escuridão
Vida em meio a guerra
Flor vencendo o canhão
Fé para os desesperados
Família para os abandonados
Razão em meio a bestialidade
É preciso ter humanidade diante da crueldade


domingo, 11 de novembro de 2018

A Dor de ser Você Mesma


- Dói?
Aquela pergunta me parecia tão estúpida. Nunca respondi.
Hoje a psicóloga na minha frente, me questiona sobre a mesma coisa e eu continuo sem saber o que dizer. Apenas observo os quadros expostos na parede branca, e os objetos em cima da mesa, completamente inertes, assim como eu, sentada nessa maldita cadeira.
Ela me olha, como se esperasse por algo.
- Você pode simplesmente dizer sim ou não!
Não entendo como responder isso, faria alguma diferença na minha vida.
Está frio aqui dentro e eu gostaria muito de estar debaixo das cobertas, lendo algumas poesias. Parece que o tempo congelou. Olho inúmeras vezes no relógio, preso no meu pulso, mas é como se os ponteiros estivessem parados.
-É a quinta vez, que você vem aqui e você continua em silêncio. Faltam alguns minutos. Diz alguma coisa.
O que ela espera que eu diga? Que eu odeio a minha vida, que as pessoas me assustam, me irritam e que as acho ridículas? Que prefiro conversar comigo mesma e que não sei lidar com os meus sentimentos, e que por isso os ignoro? Claro, eu poderia falar tudo isso. Mas do que importa? A vida continuaria o mesmo inferno de sempre e eu não preciso reabrir feridas que ao menos parecem cicatrizadas.
-Você prefere desenhar?
Ah, sim, com toda a certeza! Sou uma ótima desenhista! A única coisa que sei fazer com as minhas mãos de maneira útil, é escrever.
-Quanto mais você se calar, mais você vai sofrer. Se abrir, ajuda.
A única coisa que gostaria de abrir agora, é a porta desse consultório, para poder ir embora.
- Eu sei que você está passando por momentos difíceis. E sei também que é cansativo, mas você precisa lutar.
Eu estou lutando. Sozinha.
- Seus pais se preocupam com você e estão tentando te ajudar, mas é importante que você se ajude também.
...
- Seus pais te amam e...
Ela está louca? Não importa, porque antes que ela termine de falar, eu me levanto da cadeira e vou em direção a porta.
- O tempo não acabou.
- Vai para o inferno!
A psicóloga me olha assustada e depois sorri e diz:
- Tivemos um avanço!
- Só se for em direção ao fundo do poço. Adeus.
Saio da sala, sigo pelo corredor e desço do prédio. Ando, ando e ando... Chego em casa e meus pais, como em todas as vezes que nos encontramos, me olham com asco e sussurram um “olá filha. Voltaremos tarde, não nos espere”. Ótimo, assim não preciso suportar a presença repudiante dos dois.
Vou para o meu quarto, assisto um filme, leio algumas poesias aleatoriamente, escrevo no meu diário, escuto músicas e adormeço. Acordo, o Sol está brilhando lá fora, e aqui dentro, a escuridão me protege. O alarme toca, me levanto e vou para a escola. Algumas horas de tédio e estou em casa outra vez. Almoço sozinha, passo a tarde sozinha. Já está escuro, meus pais chegam, e dizem “olá filha” em uníssono e sobem para o quarto. Me sento no sofá da sala, algumas horas se passam, eu vou para a sala de jantar. Faço um lanche, sozinha. Subo as escadas, vou ao banheiro e tomo banho, e saio, sigo pelo corredor até meu quarto, me deito na cama e durmo. Amanhece e acontece a mesmíssima coisa até o fim de semana, que levanto tarde e meus pais viajam para a casa da praia.
Amanhece, desligo o despertador, vou para a escola, volto e almoço. Troco de roupa e vou para o consultório da psicóloga. Me sento na cadeira.
- Boa tarde! Como se sente hoje?
...
- Imagino que da mesma maneira que das últimas vezes em que nos vimos.
-Sim.
Ela me olha surpresa e diz:
-Triste? Perdida?
-Sim.
-Você conseguiria descrever como são essas sensações, ou por que se sente assim?
- Vamos ser objetivas, tudo bem?
Ela me observa, intrigada e acena com a cabeça, me afirmando que sim. Então eu continuo.
-Meus pais não me entendem, porque eles acham que sou uma aberração. Eles são ignorantes, que acreditam que me ignorar e me pagar uma terapia, é uma boa forma de me mostrar que quem eu sou, não é normal ou aceitável.
- Por que eles achariam algo assim de você?
- Porque eles me viram beijar uma menina na boca.
Ela fica em silêncio por alguns instantes e diz:
-Isso significa que eles não aceitam quem você é.
-Sim. Meus pais acreditam que uma terapia pode me curar.
-Curar?
-Para eles minha orientação sexual, é uma doença.
- Eu preciso falar com seus pais.
-Não sei se vale a pena.
-É preciso tentar.
E tentamos. muitas vezes, mas eles insistiam em não aceitar o óbvio. Passamos um mês fingindo que não nos conhecíamos, até eles aceitarem conversar com minha psicóloga. Conversamos os quatro, e apesar de eles ficarem receosos, no final acabaram compreendendo e entenderam que me amar, significa me apoiar, e aceitar quem eu sou de verdade.
...


Tolice! Isso é o que eu gostaria de contar a você leitor. Na realidade, eles nunca me apoiaram e continuam me olhando, com asco e me veem como uma aberração. Foi então que percebi, que por conta de um beijo, perdi meus pais para sempre. Entendi também, que algumas vezes a intolerância e o preconceito, faz você perder quem mais ama no mundo. Eu perdi meus pais, e eles perderam uma filha. É triste saber que eles não irão na minha formatura do colégio, nem da faculdade, que não ficarão orgulhosos das minhas conquistas e de que não me apoiarão nos meus momentos mais difíceis. É angustiante saber quem são seus pais, conviver com eles, e ainda assim ser órfã.
E hoje eu consigo responder àquela pergunta. Sim, dói. Dói muito, ver a repulsa no olhar, por você, das pessoas que te deram a vida. Dói amar e em troca receber desprezo. Dói saber que você nunca será amada, pelos seus próprios pais.


sábado, 10 de novembro de 2018

Você


Você é luz em meio a escuridão
Você é companhia em meio a solidão
Você é amor diante da dor
Você é água no deserto
Você é chuva no sertão
Você é segurança afastando o medo

Você é a minha lembrança mais bonita
Você é dona da beleza,
Do mistério
E do motivo do meu sorriso

E é com você que me sinto viva,
Perdida e ao mesmo tempo segura
É com você que sonho acordada,
Que busco em meus devaneios...

Anseio por um beijo seu
como o colibri pelo nectar da flor
Preciso de um abraço seu
como um poeta precisa da poesia
Quero você
como o viciado quer o seu vício
Lhe busco
como o viajante busca seu destino

-Sheila Tinfel

domingo, 4 de novembro de 2018

Solidão

Rio de Janeiro , 1933

Desesperança das desesperanças...
Última e triste luz de uma alma em treva...
— A vida é um sonho vão que a vida leva
Cheio de dores tristemente mansas.

— É mais belo o fulgor do céu que neva
Que os esplendores fortes das bonanças
Mais humano é o desejo que nos ceva
Que as gargalhadas claras das crianças.

Eu sigo o meu caminho incompreendido
Sem crença e sem amor, como um perdido
Na certeza cruel que nada importa.

Às vezes vem cantando um passarinho
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta.
-Vinicius de Moraes

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